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26/05/2014

A DEMOCRACIA DOS PARDAIS

A DEMOCRACIA DOS PARDAIS

Houve um tempo em que os pardais
Tal regime possuíam
Nos assuntos mais gerais
Debatiam como iguais
Dessa forma se entendiam

Era assim que procediam
Conduzindo a sociedade
Que de tudo quanto tinham
Entre todos dividiam
Na justiça da igualdade

E atingiram tal grandeza
Que nem um nem outro mal
Nem aquele da pobreza
Nem tampouco o da riqueza
Afligia um só pardal

Porém, todos já sabiam
De um problema entre os pardais
Nos debates que seguiam
Alguns não reconheciam
Que deviam ser iguais

Quase sempre reclamavam
De tão longas discussões
E os debates se acirravam
Muitas vozes já clamavam
Por haver transformações

Quando enfim se convenceram
De que haviam de mudar
Entre todos escolheram
E por voto elegeram
Alguns para governar

“Todos fiquem descansados”
Um eleito foi falar
“Que os esforços conjugados
Serão bem remunerados
Nada assim lhes vai faltar

“E os debates demorados
Não serão mais como agora
Pois que fiquem liberados
Sintam-se representados
Estão livres da demora

“Tanto tempo há de sobrar
Que terão o dia inteiro
Assim podem trabalhar
Deem o tempo e vamos dar
Tudo em troca de dinheiro

“Porque em nossa sociedade
Tudo pode ser comprado
Pois terão mais liberdade
E o direito à propriedade
Lhes será sempre sagrado”

Tal discurso aplaudido
Em enorme euforia
Foi por todos repetido
Que ficou bem resumido
E virou “Democracia!”

Quando um rico percebia
Vendo o povo descontente
Novamente repetia
“Lembrem que a democracia
É melhor pra toda gente”

Longos anos se passavam
E os pardais assim seguiam
Muitos tanto trabalhavam
Para os poucos que mandavam
E bem muito enriqueciam

Poucos tinham a riqueza
Em enorme quantidade
O restante, com certeza
Se igualava na pobreza
E no ódio da igualdade

Hoje vivem os pardais
Com esmola e quase nada
Porque assim trabalham mais
Dão volume aos capitais
Na miséria avolumada

Pois a nossa sociedade
Dessa não diferencia
E o ditado é bem verdade
“Sem a busca da igualdade
Não se tem democracia”

O CRIME DA RAPOSA

O CRIME DA RAPOSA

A raposa só de andar
Já se vê denunciada
“Pois roubou ou vai roubar”
Põem-se todos a gritar
“Peguem essa desgraçada!”

“Ela mesma quem levou
Essa escova do leão”
O macaco assim bradou
E o lagarto piorou
O teor da acusação

“Foi lá pelo mês passado
Que tal crime ocorreu
Pois eu tinha reparado
Que depois de consumado
A raposa se escondeu”

“Mas está mesmo enganado”
A raposa quis falar
“Como posso ter roubado
Se por todo mês passado
Eu me pus a viajar?”

“E a quem tinha visitado”
Indagou o elefante
“Um tio meu lá do cerrado
A cem léguas desse estado”
Respondeu bem confiante

“Pois roubou para fugir
Com o pelo penteado
Não precisa mais mentir
Pois daqui só vai sair
Num caixão mui bem lacrado”

Foi assim que o julgamento
Se encerrou numa sessão
Todos em consentimento
Deram nesse ajuntamento
A seguinte decisão

Morte para condenada!”
Foi então o veredito
E de chute e de paulada
Que a raposa vitimada
Morreu como fora dito

Tal escova, pois, no fim
Deu em outra discussão
Resolveram tudo, enfim,
Que fariam bem assim
Devolvê-la ao rei leão

E ele não quis receber
Pois a sua era mais nova
Mas, contudo, foi dizer:
“Condenado tem que ser
Quem condena sem ter prova!”

O OVO E A PEDRA

O OVO E A PEDRA


E vai lá um outro ovo
A bater na dura pedra
Mesmo frágil nunca medra
Quando um quebra... vai de novo! 

E vai outro e outro ainda
Toma fôlego e avança
Pois lutar é esperança
Na miséria que não finda

Numa época futura
Terá fim a ditadura
E o poder será do povo

Pois até pedra mais dura
Tanto bate até que fura
E vai lá um outro ovo...




A ABELHA E O SAPO

A ABELHA E O SAPO

Uma abelha distraída
Pelas flores foi voar
Dando volta até parar
Bem num brejo sem saída

Vendo a noite lhe chegar
Já cansada e mais perdida
Foi-se enfim já resolvida
Para um sapo perguntar

“Mil perdões por lhe enfadar
Eu lhe rogo por mostrar
Onde fica a direção”

Mas o sapo por julgar
Uma mosca a lhe chegar
Solta a língua no ferrão

O que julga na aparência
Tem a mesma experiência

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