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18/05/2012

A SERINGUEIRA E A CIGARRA


A SERINGUEIRA E A CIGARRA

Uma jovem seringueira
Vinda a pouco da semente
Lutava com toda força
Para nascer novamente
 
Plantas nascem duas vezes
Inda assim com muita guerra
Uma ao brotar da semente
Outra quando sai da terra

E lá ia a nossa amiga
Apertava-se e espremia
Pois o solo pedregoso
Só com luta se vencia

Era pedra sobre pedra
Que parava e recuava
Invertia o seu caminho
Muito pouco ela avançava

E no meio da jornada
Nossa amiga avistou
Uma larva de cigarra
Foi assim que lhe falou

“Como vais, ó companheira!
O que aí fazes parada?
Se quiseres dou-te força
Vamos juntas nessa estrada”
“Obrigada, minha amiga
Mas porque tamanha pressa?
Não se acaba o mundo hoje
Pois fiquemos juntas nessa”

“Mas o mundo não espera
Temos sim que trabalhar
O segredo dessa vida
É pois sempre batalhar”

“Pois que seja, companheira
Eu ainda vou ficar
Mas, lhe digo, um dia subo
Pela fenda que deixar”

Depois de se despedirem
Foi se embora a seringueira
Certa da sua verdade
E da luta corriqueira

Mas colheu sim do bom fruto
Pois da terra ela brotou
Inda foi crescendo forte
Bem assim continuou
De estação em estação
Seu caminho e sua marcha
Dando aos bichos um abrigo
Para os homens a borracha
 
Muitos anos se passaram
Até que um dia avistou
Algo sair do buraco
Que ela mesma ali deixou
 
“Como estás, dona cigarra?
Eu nem posso acreditar
O que tu fazes da vida?
E onde estás a trabalhar?”
 
“Ó, senhora seringueira
Como havia lhe falado
Eu saí pelo buraco
Que você tinha deixado

“Pois assim que levo a vida
A folgar da noite ao dia
Não me prendo com trabalho
Vivo sempre em cantoria

“Mas me conte, minha amiga
Como você tem passado?
Pois lhe vejo com saúde
Deve estar em bom estado”
 
“Tenho sim muita firmeza
Muitos de mim necessitam
Uns precisam do meu sangue
Outros no meu corpo habitam

“E plantada como estou
Sem poder nem mesmo andar
Faço muito pelo mundo
E sem nunca reclamar

“Ao contrário vejo tu
A sorrir sem fazer nada
Fico muito entristecida
E me sinto desonrada”
 
"Mas que vida desgraçada
Que a senhora veio a ter
Pois sustenta todo mundo
E nem pode se mover

"Pois eu tive melhor sorte
Vivo a vida a folgar
Pouso mesmo nos teus galhos
E feliz vou a cantar"

Quando finda a canção
A cigarra voa e sai
Canta em um galho e no outro
Se despede e logo vai

E tem mesmo muita gente
Que bem vive alienada
E trabalha para muitos
Para que não façam nada!

Outras são como a cigarra
Que na vida tanto ostentam
Desdenhando até daqueles
Que tal luxo lhes sustentam






2 comentários:

  1. YSS, fico sempre impressionado com seus escritos, especialmente pela escolha das palavras - estilo "nordestino", de termos exatos, duros como a terra que habitam - e pela métrica irretocável.

    Parabéns pelo post.

    Abraços.

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    Respostas
    1. Obrigado Eudyr.

      Grato pela força. Quem me dera ter este “estilo nordestino” na hora de escrever. Para falar a verdade é um pouco o que busco mesmo. Mas tenho muito que aprender ainda.

      Às vezes é necessário muito esforço para alcançar a simplicidade que, por exemplo, meu avô, que era nordestino, tinha quase que "naturalmente" quando ia contar histórias sobre o urubu que enganou o gavião. Penso que daqui uns 10 anos já estarei bem melhor, pelo menos a ponto de não cometer erros básicos nos versos e de utilizar palavras forçadas.

      Sou um pouco desatento com o blog, mas agradeço de coração quando noto que meus amigos deixaram recados nele.

      Obrigado, e estamos aí.

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