A MACULINEA ALCON
E O FORMIGUEIRO
Mas que estranha criatura
Que na areia se arrastava
Ia, vinha… voltas dava
Como quem parte à procura
De algo que não encontrava
Por custoso movimento
Qualquer um se apercebia
Que trabalho não faria
Para ter seu provimento
Ela não se afligiria
Procurava a criadagem
Alguém que se dispusesse
A dar tudo o que quisesse
Para assim tirar vantagem
Daquilo que lhe fizesse
Porém quando aproximava
De algum bicho que seguia
Ao falar do que queria
Não havia quem ficava
A lhe fazer companhia
Eis que viu no formigueiro
A possível mão amiga
Que estava em cada formiga
A dar colo verdadeiro
E forrar sua barriga
Mas ainda precisava
De algum jeito disfarçar
E as formigas enganar
Da melhor forma que dava
Pois seu plano a funcionar
Foi assim se misturar
Com as larvas de formiga
Fez-se então de boa amiga
Para assim poder passar
Sem querer causar intriga
Fez-se filha de criada
Modelou seu corpo inteiro
Copiou a cor e o cheiro
Quando ao fim foi carregada
Lá dentro do formigueiro
E encontrou boa acolhida
Tinha tudo o que queria
Mesa farta todo dia
Era enfim tanta comida
Que seu corpo só crescia
Foram bem muitas manhãs
E ela ainda se alongava
Cinco vezes já passava
Bem maior do que as irmãs
Mas ninguém desconfiava
Pois lhe tinham como cria
Por isso lhe alimentavam
Das demais filhas tiravam
Quase tudo ela comia
E outras fome até passavam
E foi tanto que engordou
Que ali já nem mais cabia
Decidiu partir um dia
Pois da forma que chegou
Ela também sairia
A procura de um empregado
E outro nobre acolhimento
Pois aquele no momento
Quente, escuro e apertado
Não lhe dava mais sustento
Assim ela foi se embora
Sem querer se despedir
Se arrastando foi sair
Quando enfim chegou lá fora
Outro ser se viu surgir
Pois da estranha criatura
Não ficou nem silhueta
Mudou mesmo de figura
Transformada em dada altura
Numa enorme borboleta
E ficou mesmo tão linda
Asas, patas, corpo inteiro
Do azul mais verdadeiro
De tão grande foi ainda
O jantar do formigueiro
Se foi bom ou mau disfarce
Não se sabe nem ao certo
Mas se olhar mesmo de perto
Só falamos em disfarce
Quando algum é descoberto
http://pt.wikipedia.org/wiki/Borboleta-azul
ResponderEliminarDisfarce de quem, da lagarta ou das formigas...? Tudo acaba bem quando termina bem, e a lagarta se transformou numa bela borboleta azul que serviu de alimento às formigas...rss
ResponderEliminarMuito bom!
Beijos meus
Legal a sua interpretação, Manuh.
EliminarHavia pensado em fazer uma analogia com o porco que se vangloriava de ser alimentado pelo homem, mas não sabia que seria comido no natal, mas resolvi deixar sem a “lição”.
Bem interessante mesmo dizer que o disfarce era das formigas.
Voce é um poeta...Quem mais colocaria em forma de versos uma estória de enganos e traição? Aí lembrei do Machado de Assis, no seu conto "A agulha e a Linha", e usarei sua última frase para arrematar meu comentário:
ResponderEliminar"Eu também servi de agulha pra muita linha ordinária..."
E,como dizem, beleza não põe a mesa.
Abraço.
Correção: o Conto do Machado chame-se "Um Apólogo".
EliminarValeu, amigo Eudyr…
EliminarAquele conto do Machado está entre minhas fábulas prediletas. Comparável às do Fedro – como o Lobo e o Cordeiro – e às do Esopo – como a Cigarra e a Formiga –, só que escrita por um gênio.