Baseado na obra Visão do Paraíso, de Sérgio Buarque de Holanda:
Visões do Brasil
(diabo) Paranagoaçu
raçapa,
Ibitiribo guibebebo,
Aço Tupi moangaipapa
(servo) Bae apiaba paipó?
(diabo) Tupinaquijã que
igoara
Atravessando o grande
mar,
(Na Aldeia de
Guaraparim, Anchieta)
Na época da Renascença, os ocidentais têm a surpresa de
constatar que o império do diabo é muito mais vasto do que haviam imaginado
antes de 1492. Os missionários da elite católica em sua maioria aderem à tese
expressa pelo padre Acosta: desde a chegada de Cristo e a
expansão da verdadeira religião no Velho Mundo, Satã refugiou-se nas Índias, da
qual fez um de seus baluartes. (Delumeau: História do medo no Ocidente)
Brasil, o Paraíso
"E o grande mal da Europa,
economicamente, foi sempre o mesmo, incurável: auri sacra fames, fome, sede de
ouro"
(Lucien Febvre, A Europa).
Brasil, O "outro
Peru"
Fazer do Brasil um
“outro Peru” foi o sonho de Tomé de Sousa, presente em todos os atos de sua
administração.
Essa ideia obsessiva
há de levá-lo, em dado momento, ao ponto de querer introduzir duzentas lhamas
andinas no Brasil. E recomenda-se no mesmo documento que das ditas lhamas se
fizesse casta e nunca faltassem. Já seria essa, à falta de outras, uma das maneiras
de ver transfiguradas as montanhas de Paranapiacaba numa réplica oriental dos
Andes.
O que saíam a buscar
em nossos sertões tantas expedições custosamente organizadas não era tanto o
ouro como a prata. E nem eram diamantes. O que no Brasil se queria encontrar
era o Peru, não era o Brasil. (Sergio Burque de Holanda, Visão do Paraíso)
Brasil, a "outra
Paris"
Pardais, símbolos da
cidade de Paris, foram importados e soltos nas novas avenidas. Ainda hoje há
quem diga que tais aves, corriqueiras do ambiente urbano, são “brasileirinhas
da silva”.
Brasil, a "outra
Atenas"
Mas o mito também teve
outras faces… Sentindo-se como “desterrados em sua própria terra” que já quase
nascem com vontade de voltar, a urgência de ser outra coisa acompanhou o povo
brasileiro por muito tempo, se fazendo presente também naquela necessidade
maranhense de ser a “outra Atenas”, constituída de uma pequena, mas abastada
intelectualidade, que foi estudar no exterior, e na volta quis fazer-se valer
pelas letras diante de uma população de analfabetos. Suas obras não se tornaram
corriqueiras como os pardais. Mas ainda estão lá, tão brilhosas quanto pouco
lidas.
Brasil, o "pais do
futuro"
Entretanto, aquela
vontade de ser outro, companheira de longa duração no imaginário brasileiro,
começa a se dissipar. A necessidade de fazer do Brasil um “paraíso perdido”, um
“outro Peru”, uma “outra Paris” ou uma “outra Atenas” vai ficando para trás em
um passado cada vez mais distante e inofensivo, tornando-se apenas objeto de
estudo do Historiador. Perdeu espaço diante dos avanços econômicos e sociais
ocorridos nos últimos anos. O Brasil começa a se fazer presente como peça
atuante no jogo geopolítico internacional e desponta, cada vez mais, como
potência econômica de dimensão continental.
Assim, a necessidade
de reconhecer-se enquanto outro vai dando lugar a vontade de ser o “Brasil o
país do futuro”.
Ao Historiador, “desde
que se interesse nas coisas do seu tempo”, cabe dar um passo a frente. Sair do
passado. Colocar-se no seu tempo. E indagar se esse “país do futuro” não é
apenas a mesma permanência, velha de vários séculos, que insiste em querer
fazer do Brasil outra coisa além de si próprio.
YSEMSOMA
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