A SERINGUEIRA E A CIGARRA
Uma
jovem seringueira
Vinda
a pouco da semente
Lutava
com toda força
Para
nascer novamente
Plantas
nascem duas vezes
Inda
assim com muita guerra
Uma
ao brotar da semente
Outra
quando sai da terra
E lá
ia a nossa amiga
Apertava-se
e espremia
Pois
o solo pedregoso
Só
com luta se vencia
Era
pedra sobre pedra
Que
parava e recuava
Invertia
o seu caminho
Muito
pouco ela avançava
E no
meio da jornada
Nossa
amiga avistou
Uma
larva de cigarra
Foi
assim que lhe falou
“Como vais, ó companheira!
O que aí fazes parada?
Se quiseres dou-te força
Vamos juntas nessa estrada”
“Obrigada, minha amiga
Mas porque tamanha pressa?
Não se acaba o mundo hoje
Pois fiquemos juntas nessa”
“Mas o mundo não espera
Temos sim que trabalhar
O segredo dessa vida
É pois sempre batalhar”
“Pois que seja, companheira
Eu ainda vou ficar
Mas, lhe digo, um dia subo
Pela fenda que deixar”
Depois
de se despedirem
Foi
se embora a seringueira
Certa
da sua verdade
E da
luta corriqueira
Mas
colheu sim do bom fruto
Pois
da terra ela brotou
Inda
foi crescendo forte
Bem
assim continuou
De
estação em estação
Seu caminho e sua marcha
Dando
aos bichos um abrigo
Para
os homens a borracha
Muitos
anos se passaram
Até
que um dia avistou
Algo
sair do buraco
Que
ela mesma ali deixou
“Como estás, dona cigarra?
Eu nem posso acreditar
O que tu fazes da vida?
E onde estás a trabalhar?”
“Ó, senhora seringueira
Como havia lhe falado
Eu saí pelo buraco
Que você tinha deixado
“Pois assim que levo a vida
A folgar da noite ao dia
Não me prendo com trabalho
Vivo sempre em cantoria
“Mas me conte, minha amiga
Como você tem passado?
Pois lhe vejo com saúde
Deve estar em bom estado”
“Tenho sim muita firmeza
Muitos de mim necessitam
Uns precisam do meu sangue
Outros no meu corpo habitam
“E plantada como estou
Sem poder nem mesmo andar
Faço muito pelo mundo
E sem nunca reclamar
“Ao contrário vejo tu
A sorrir sem fazer nada
Fico muito entristecida
E me sinto desonrada”
"Mas que vida desgraçada
Que a senhora veio a ter
Pois sustenta todo mundo
E nem pode se mover
"Pois eu tive melhor sorte
Vivo a vida a folgar
Pouso mesmo nos teus galhos
E feliz vou a cantar"
Quando
finda a canção
A
cigarra voa e sai
Canta em um galho e no outro
Se despede e logo vai
E tem mesmo muita gente
Que bem vive alienada
E trabalha para muitos
Para que não façam nada!
Outras são como a cigarra
Que na vida tanto ostentam
Desdenhando até daqueles
Que tal luxo lhes sustentam