Em memória de Francisco Correia
COMIDA FRIA
Um urubu lá do alto observava
Os restos de um boi
Que cá abaixo estava
Voando em círculos
Ele esperava
Que esfriasse então
Sua refeição
Mas um terrível vulto aproximava
E já de bem longe lhe amedrontava
“O que faz aqui?”
Só se perguntava
Olhando para o jovem gavião
“O que um urubu faz aqui sozinho
Sobrevoando bem no meu caminho?”
Meu senhor gavião
Juro que não foi por má intenção
É que sigo este boi desde outro dia
Voando co’a barriga bem vazia
Mas agora que a carne já está fria
Digo que minha fome vou matar”
Que por sobre um cacto descansava
E de tão distraído nem notava
O apuro que o destino lhe guardava.
“Para que pegar só comida fria
Se podemos matar um faisão?
Carne fresca,
Suculenta
E macia
Facilmente já lhe saciaria”
Mas o urubu assim foi lhe
explicar:
“Eu sempre espero a comida
esfriar”
“Só come bicho podre e sem sabor
Pois você nunca foi um caçador
Nunca terá um almoço suculento
Porque é preguiçoso...
Seu vôo é leeeento
Mas o faisão então irei pegar
Assim você também pode comer
Fique bem aí
Para observar
Pois até você consegue aprender”
O urubu novamente foi lembrar:
“Eu sempre espero a comida esfriar”
O gavião desceu feito uma lança
Pois tal velocidade que ele
alcança
Deixando pouca chance ao faisão
Este ao dar conta do enorme perigo
Que era a chegada do seu inimigo
Tenta se esquivar
E lança-se ao chão
O gavião,
sem tempo de parar,
Bem naquele cacto foi trombar
Sentindo a dor do espinho a perfurar
Ali no meio do seu coração
Por mais que se batia não soltava
No peito o sangue todo lhe
escapava
Gritava ao urubu:
“Vem me ajudar!!!”
E esse parecia não lhe escutar
O gavião viu o sangue escorrendo
E percebeu que estava já morrendo
Mas reunindo forças foi gritar:
“Amigo, amigo… Vem me ajudar!!!”
E lá do alto o urubu foi lhe
falar:
“Eu sempre espero a comida esfriar”