(A todos que não se curvam a quem tem sede de poder)
Rei da Selva
Lá na mata quem mandava
Era mesmo o gavião
Qualquer bicho que passava
Continência lhe prestava
Prova de submissão
Quando algum desafiava
Não havia salvação
Pois o rei não perdoava
E do bicho só restava
Pelo ou pena pelo chão
Eis que um dia apareceu
Um tucano a se gabar:
“Considerem tudo meu
Pois, lhes digo, serei eu
Quem na mata irá reinar”
Mas ninguém se convenceu
“Como?” foram perguntar
E o tucano respondeu:
“Ninguém nunca me venceu
Vim aqui lhes libertar
“Quando ao trono eu chegar
Mudo toda essa estrutura
Vão ter casas pra morar
Ninguém vai ter que caçar
Pois darei tudo em fartura”
Eis que surge o gavião
Pondo os bichos a correr
É uma enorme confusão
Todos vão sem direção
Procurando se esconder
Só o tucano ali ficou
“Hoje lhe vou expulsar!”
E depois continuou:
“Eu só saio de onde estou
Pra tomar o seu lugar”
O rei disse: “Já morreu!
Vai penar na minha mão”
Mas alguém apareceu
Foi um tiro só que deu
E espantou o gavião
“Como vê, senhor tucano
Eu cumpri com a promessa
Falta ainda nosso plano
Vou lhe dar ainda um ano
Pra pagar sem muita pressa”
Se foi bom isso eu não sei
O homem, sei, não se deu mal
O tucano, lhes direi
Ele virou mesmo rei
Lá no zôo municipal.